Pela primeira vez, cientistas dizem que celulares podem aumentar risco do aparecimento de alguns tipos de câncer para quem usa o telefone durante mais de meia hora por dia ao longo de pelo menos 10 anos.
Esta semana, a Organização Mundial da Saúde, a OMS, soltou um alerta que deixou muita gente preocupada. Haveria uma possível ligação entre o uso do celular e o surgimento de tumores no cérebro. O Fantástico ouviu os maiores especialistas do mundo para você entender o que a ciência tem a dizer sobre esse alerta e ainda preparamos um serviço completo para você usar seu telefone celular sem medo.
Estamos cercados de radiação e não podemos fugir dela. A maior fonte é o sol. Antenas de rádio, como o nome diz, emitem radiação. Assim como as de TV e de celulares. Redes de transmissão sem fio, telefones sem fio - a maioria dos aparelhos do nosso dia a dia emite algum tipo de radiação.
Esta semana, um grupo de especialistas ligados à Organização Mundial da Saúde decidiu analisar todos os estudos já feitos até agora sobre a radiação emitida pelo celular. Pela primeira vez, os cientistas dizem os celulares possam aumentar o risco do aparecimento de alguns tipos de câncer para quem usa o telefone durante mais de meia hora por dia ao longo de pelo menos 10 anos.
Um deles é o glioma, um tumor maligno no cérebro, outro é o meningioma, o câncer na membrana que envolve o cérebro e o neuroma acústico, que se forma perto do ouvido, não é maligno, mas pode causar surdez.
Há um tipo de radioatividade a ciência conhece bem: é a que vem da tecnologia nuclear. Essa radiação pode matar e certamente provoca câncer. Mas também pode ser usada para tratar câncer, a radioterapia ou para fazer exames médicos. E não é a mesma radiação dos celulares, que vem de ondas eletromagnéticas. Tomógrafos e a radioterapia usam radiação ionizante. Celulares, não-ionizante.
Entenda a diferença: a ionizante tem ondas de alta frequência que chegam até o átomo, a menor partícula na formação de todos os tecidos, e mexe na estrutura dele, provocando a formação do câncer. Já a não-ionizante é de baixa freqüência, agita os átomos, produz calor, mas não altera a matéria.
A Organização Mundial da Saúde agora quer mais estudos para compreender melhor os efeitos desses raios no corpo humano. Em Chicago, nos Estados Unidos, o repórter Flávio Fachel repercutiu o assunto com alguns dos maiores especialistas em câncer do planeta.
Para entender o significado desse estudo divulgado pela Organização Mundial de Saúde que faz alertas sobre o uso do celular, Flávio Fachel foi até Chicago, onde está acontecendo um dos congressos mais importantes do mundo que trata sobre o estudo do câncer. Trinta mil médicos e pesquisadores de vários países discutem todos os tipos de câncer que existem e suas causas. No local,ninguém deixou de usar o aparelho, como sempre, só por causa dos alertas dados pela Organização Mundial de Saúde.
Fantástico: Se alguém chegar ao consultório e perguntar: ‘Doutor, posso usar o celular?’ Qual é a resposta?
Gilberto Amorim, oncologista clínico: Pode e não vai deixar de utilizar por causa disso. A gente esse é apenas um sinal para os cientistas, mas, em termos populacionais, isso não vai mudar. A gente vai continuar utilizando os telefones, eu, os pacientes, e essa pergunta já chegou ao consultório.
O doutor David McCormick foi um dos pesquisadores que participou do estudo. Ele esclarece: em nenhum momento a pesquisa afirmou que o uso de celular causa câncer. O que aconteceu é que a radiação dos celulares foi classificada em nível 2B em uma escala de risco que vai de 1 a 4. O 4 indica nenhum risco. No nível 2B, não há evidências de perigo, mas também não dá para descartar o risco.
Além das radiações dos celulares, o cafezinho também está nessa categoria. O nível 1, onde estão o fumo e o amianto, por exemplo, é usado para substâncias que comprovadamente causam a doença.
No caso dos celulares, o doutor McCormick explica de onde vem a preocupação da OMS. Ele mostra que, ao usar o aparelho perto do ouvido, as células dessa região da cabeça recebem um bombardeio de ondas eletromagnéticas de alta frequência muito parecidas com as emitidas pelos aparelhos domésticos de microondas.
O problema, diz o doutor, é que se essa radiação realmente provoca câncer, nós ainda não temos ideia de como isso acontece.
“Eu acho que o aviso é a necessidade de que novos estudos sejam feitos e não de que esse seja um assunto encerrado. Não é uma comprovação formal, simplesmente uma ideia de que possa haver um risco aumentado, mas isso não está comprovado ainda”, pondera o médico pesquisador do Inca Daniel Herchenhorn.
Pelo menos nos próximos dez anos, os cientistas terão muito trabalho até conseguir chegar a uma conclusão sobre as consequências do uso do celular na saúde da gente.
No Brasil, o doutor Gláucio Siqueira é especialista em as ondas eletromagnéticas, explica que a quantidade de radiação dos celulares é regulada em lei e é muito baixa para causar danos. Ele levou um sensor de radioatividade para fazermos testes com vários aparelhos.
Encostando os telefones no sensor, como no ouvido, ou afastando. “Essa é a mais sensível que você possa imaginar. Se a gente andar com o celular pelo ambiente, a gente vai ver que o nível de energia é da ordem de um milésimo, dois milésimos, três milésimos. Mas se você trouxer um dos seus aparelhos colado na antena e fizer uma atualização de dados”, explica o doutor Gláucio.
Subiu para 600, 900, 1400 está variando bastante. Afastando um pouquinho, cai para 0,2.
Com outro aparelho mais simples, mesmo perto, o aparelho marcou 1. “O aparelho mais simples, que não transmite dados, transmite menos energia”, explica o doutor.
Outro telefone, quando aproxima, marca a mesma coisa, chega até 6. Agora, quando chega longe, na distância de 40 centímetros, que é a mesma distância que botar no fone de ouvido, fica praticamente nula a radiação.
Então, atenção: a maioria dos celulares vem com fone de ouvido. Use! Um estudo americano, que influenciou a decisão do painel de cientistas, mostra que o campo eletromagnético do celular aumenta a atividade elétrica do cérebro, elevando também a temperatura local.
A pesquisadora Ubirani Otero, chefe do setor de câncer ocupacional do Inca, alerta: “A radiação esquenta o cérebro. Esses efeitos térmicos já tão bem descritos. Como alguns estudos já citam: perda da memória, dificuldade de aprendizagem”.
Crianças têm o crânio mais fino, o cérebro em formação. O calor penetra mais fundo. Daí a necessidade de ter mais cuidado com elas.
Algumas precauções que podem ser tomadas, segundo os especialistas:
- Evite o uso de celulares por crianças;
- Não deixe o celular sob o travesseiro nem use como despertador. Assim seu corpo não recebe radiação durante o sono;
- Evite carregar o telefone no bolso ou pendurado no cinto: use bolsa ou mochila;
Quando puder, mande mensagens de texto. É mais barato e você usa afastando o telefone para escrever.
Lembrando que tudo isso é precaução. Até agora, o único uso de celular que certamente faz mal para a saúde é no trânsito. Dirigir falando ou mesmo lendo e escrevendo mensagem, aumenta em quatro vezes o risco de acidente.
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